cozinhando para a semana #2
quinze coisas que começaram a acontecer desde que começamos a cozinhar + receitas do mês
mais um mês passou e nem acredito, mas mais uma vez eu e gui cozinhamos todos os finais de semana. nesse mês fiz aniversário, fomos num festival de música, no zoológico, andamos no parque, e em todos esses momentos falamos sobre cozinhar. talvez algum dia me seja algo natural, mas por enquanto ainda me surpreendo com como cozinhar tem atravessado nossos assuntos, discussões e planejamentos. começamos a assistir chefs table. também comecei a ler cook, eat, repeat da Nigella Lawson, que escreve sobre comida de um jeito delicioso de ler e sentir, de um jeito que espero conseguir também um dia. percebo que terminei fazendo muito mais da minha vida sobre cozinhar que só os domingos porque preciso de inspiração, e preciso fazer as pazes com a ideia de que isso vai ter que fazer parte da minha vida pra sempre.
nesse mês eu me irritei bastante. tenho me sentido cansada, o fim de semana passa mais rápido que eu gostaria, eu e gui não somos exatamente ágeis na cozinha, tudo leva bastante tempo, não sobram mais muitas horas pra gente gastar a toa ou assistir um ou dois filmes e isso me estressa. em algum momento gui disse que deveríamos parar de cozinhar até que entendêssemos como fazer tudo isso sem que eu passasse nervoso, e eu respondi que não, que continuaríamos, que o problema não é cozinhar, o problema é que nossos trabalhos tomam todo o tempo que teríamos pra isso durante a semana, é ter que fazer tudo em um dia que deveria ser de descanso, mas que eu gostaria que continuassemos do jeito que desse, mesmo que fosse pra fazer menos coisas, com menos expectativas. prometemos que íamos pegar leve, que se não desse pra fazer algo que planejamos, tudo bem. na semana seguinte bagunçamos toda a cozinha de novo, e de novo eu chorei, mas dessa vez de tanto rir porque eu fiz uma empanada com ricota e goiabada que ficou parecendo algum tipo de castigo do inferno porque eu não tirei as sementes da goiaba antes e aí não tinha como mastigar aquela coisa que de outra forma teria sido uma das mais gostosas que já fiz.
abaixo seguem outras quinze coisas que aconteceram no nosso terceiro mês cozinhando pra semana. no final do texto, as receitas que fizemos nele.
quinze coisas que aconteceram no nosso terceiro mês cozinhando
nunca antes na minha vida eu tinha sentido falta de vários timers ao mesmo tempo. o timer do celular não é o bastante. nós somos duas pessoas desatentas cozinhando e eu diria que só acertei o ponto do frango em metade das vezes.
começamos a pedir cestas de alimentos orgânicos.
eu já tinha tentado uma vez há uns anos, mas desisti quando não consegui preparar tudo o que recebi. esse assunto rende e se quiserem me peçam, adoraria escrever só sobre ele, mas sendo muito sucinta, consumir dessa forma mudou tudo: nosso planejamento agora se baseia no que vem na cesta, começamos a fazer pratos mais elaborados porque recebemos coisas diferentes na cesta e queremos valorizá-las (foi assim que terminei fazendo um risoto muito foda), vamos ao supermercado e nos assustamos com o tamanho dos vegetais por causa dos agrotóxicos, começamos a comer mais frutas, abrimos um abacaxi pela primeira vez, ficamos hiperfocados em tomar água de coco direto da fruta. testamos a cesta do diferente e não curtimos muito, mas nas últimas três semanas pedimos do Raizs e estamos bem contentes. nosso próximo passo é conseguir fazer parte de uma CSA. uma coisa que eu não esperava embora talvez óbvia é o quão mais saboroso é cozinhar com orgânicos. parece que tudo tem o gosto que conhecíamos mas mais forte, mais suculento, mais expressado. nossa comida ficou ainda mais especial.
alguns clichês da vida são reais e muitos outros hábitos nossos começaram a mudar junto com termos começado a cozinhar. estamos tentando acordar mais cedo nos fins de semana, o que conseguimos em alguns e falhamos em outros mas me parece essencial para conseguir estar com a cozinha limpa antes das 18h no domingo.
comer melhor inevitavelmente me levou a pensar mais sobre política e desigualdades sociais. pra usar ingredientes decentes, comprar no supermercado como nossos pais sempre fizeram não funciona mais. a forma padrão de comprar alimentos na cidade grande é péssima, multinacionais estrangeiras estão definindo como e o que comemos, ultraprocessados são incentivados o tempo todo como solução de praticidade. fugir disso envolve tempo para se planejar e dinheiro pra poder bancar alternativas. comer bem é para poucos porque nosso sistema de produção é excludente, nossos alimentos são feitos através de uma ideologia que serve a interesses de pessoas específicas e que são bem diferentes dos nossos.
começamos a sonhar com uma cozinha maior. cozinhamos na casa do gui, um apartamento pequeno com uma cozinha pequena, mas maior que a minha, que é menor ainda. o meu banheiro é maior que a minha cozinha. inevitavelmente estou de novo pensando em como no capitalismo as plantas de apartamento feitas para a ᵥᵢdₐ ₘₒdₑᵣₙₐ não tem mais cozinha, e sim uma área de preparação de alimentos. me lembro muito da Carla Soares (do outracozinha.com.br, que indico) falando de como em cidades grandes temos espaço limitado, que desincentiva e complica muito qualquer ação criativa como cozinhar.
Um monte de gente adora falar sobre o prazer de cozinhar, mas pouquíssimas expõem como é difícil sentir todo esse entusiasmo num lugar que não te comporta.
da Carla, no texto abaixo
reparei muito que sem o condicionamento físico que ganhei nos últimos meses fazendo academia eu sequer aguentaria ficar em pé por mais de quatro horas em um dia cozinhando. também queremos comprar um crocs ou algo que o valha porque ficar descalço por tanto tempo é bem desconfortável pra coluna.
começamos a comer mais verde e colorido.
passei a ter vontade de cozinhar mais também em outros momentos. em comparação a cozinhar por horas no fim de semana, preparar algo rapidinho parece muito convidativo e fácil, e de repente me peguei fazendo uma tilápia na sexta a noite ao invés de pedir um ifood (essa receita aqui, aliás, faço de cor há anos).
começamos a usar mais a cozinha de forma geral. com a caixa de orgânicos e a rotina de cozinhar, de repente temos uma geladeira e armário cheio de alimentos, e aí quando eu fiquei doente, gui foi lá e me fez um chazinho com limão, gengibre e mel. juro que melhorei depois disso.
erramos menos como temperar. isso sempre foi uma grande questão pra mim, sentia que minha comida nunca ficava tão gostosa, mas depois de doze semanas de prática garanto que, como sempre, é fazendo que se aprende.
guilherme emagreceu oito quilos. sem nem tentar, apenas deixando de comer delivery e em restaurantes frequentemente. e ele nem comia mal, mas é muito mais difícil saber o que ou como você está comendo quando não prepara seu próprio alimento.
passamos bastante tempo fantasiando sobre como seria o nosso próprio restaurante no quintal da nossa casa, que abriria só quando quiséssemos, teria móveis de design brasileiro, luz baixa, um jazzinho tocando num dia, um tango no outro, um cardápio de alimentos orgânicos (preferencialmente vindos do nosso sítio) e valores acessíveis. sim, um sonho.
perdemos o medo da panela de pressão. tudo fica mais fácil e mais gostoso com a panela de pressão. usamos em todos os finais de semana agora. "ah mas eu sou millennial e tenho medo" cresça e assista um vídeo sobre no youtube.
passei a me preocupar mais com tomar café da manhã todos os dias. tenho feito overnight oats, que além de uma receita hypada na internet de alguns anos atrás são um desjejum muito delicioso e nutritivo que também pode ser preparado com certa antecedência, elas duram bem até três dias na geladeira.
mais do que nunca, eu quero uma máquina de lavar louça. tem um texto em alguma aula minha que diz que ela foi inventada em 1886 e isso me atormenta constantemente, porque uma máquina de lavar louça só ainda nos é tão inacessível porque somos um país que foi e é explorado e destruído por colonizadores, porque estamos na periferia do capitalismo e não temos fácil acesso a coisas que facilitariam muito nossa existência humana. sim, toda vez que vejo o tanto de louça que sujamos uma vez atrás da outra pra cozinhar 5 pratos diferentes eu quero desistir de tudo e voltar a comer de forma completamente insustentável para meu corpo e para o mundo e para minha conta bancária.
receitas do mês
semana 1
feijao branco camil
o de caixinha mesmo. queria testar esse há tempos, e ficou bem gostoso, surpreende mto como alimento que já vem pronto. e surpreende em quão pouco processado é.carne desfiada
um dos nossos pratos preferidos desde que começamos. fazemos 1.3kg e leva meia hora na pressão. fica tão macio. já fizemos com acém, coxão mole e com patinho - acho que coxão mole foi a que teve a textura mais gostosa no final.purê de abobora paulista
perdi o link dessa mas veio de algo que vi no tiktok e foi muito fácil: cortamos pela metade, tiramos as sementes, colocamos um alho no meio do buraco com as pontinhas cortadas pra fazer um charme, pode por cebola também. assamos até ficar bem macio, depois foi só puxar com a colher e amassar junto com um tantinho de manteiga/azeite. ficou numa cor linda.creme de espinafre
o nosso favoritobolo de mandioca
nessa semana estava tão empolgada que fiz até bolo, mas não tenho a receita, foi de um pacotinho que comprei de um feirante.pesto
fizemos uma versão deste aqui, mas com outro queijo e manjericão.
semana 2
edamame
eu adoro comprar edamame congelado, fica pronto em minutos e fica bom com diversas combinações. e tem muita proteína!batata doce assada
lasanha de carne com carne desfiada e molho bechamel
congelamos um tanto da carne da semana anterior e usamos pra essa lasanha. foi a primeira vez que fiz uma lasanha! ficou um sonho. e congela (e descongela) muito bem.abobrinha refogada com ervilha
fiz de novo o refogado da receita linkada, aprendi a gostar muito de abobrinha por causa dele. ficou uma delícia mexida com arroz, edamame e um ovinho frito.
arroz
semana 3
tsitsaki
nessa semana quis testar molhos diferentes, e fizemos esse e o próximo com iogurte. ambos funcionam como acompanhamento (tipo pra carne!) e deixam tudo com gostinho de restaurante.salada de tomate com cebola roxa
o que mais gosto no panelinha é aprender técnicas diferentes pra coisas comuns: o truque de “drenar” os tomates aqui deixa o resultado final muito distinto e gostoso.frango no papilite com cebola e salsao
fiz com base nessa receita, temperei com o que tínhamos. usamos muito o papilote pra assar frango esse mês, adianta muito o processo e fica bem macio no final!fizemos assim, mas sem o balsâmico.
risoto verde com abobrinha
uma trabalheira, mas valeu cada parte. ficou muito especial.
semana 4
purê da terra
por coincidencia recebemos na caixa de orgânicos batata doce, inhame e mandioquinha, então fiz nossa versão disso aqui. a finalização com alho fez toda a diferença!feijão branco
o alecrim mudou tudo aqui também.carne com pimentão
no fim de semana comemos com guacamole e tortillas, durante a semana foi pro pão francês também.sigo muito fã da sobrecoxa assada, a textura não muda nada depois de descongelar.
arroz
ufa! foi isso. me contem o que acharam, dividam suas aflições domésticas. muito obrigada por lerem! volto daqui três semanas com os próximos acontecimentos culinários.
um beijo, kéuri.
Também tô passando pela obsessão de cozinhar (e com orgânicos!) e amei demais esse texto. Me pego pensando em cozinhar durante a semana toda e realmente me animo quando vejo uma receita por aí que dá vontade de fazer, fico pensando nela até cozinhar kk. Até dezembro tinha feito apenas coisas muito básicas, e é impressionante como muda a vida toda. Adorei as receitas e as referências do texto, vou conferir tudo. Muito obrigada por compartilhar! :)
e pior que foi realmente o melhor abacaxi da história...